Thomás Aquino compara cangaço de 'Guerreiros do Sol' com Brasil de hoje: 'Lei era só para alguns'

  • 11/06/2025
(Foto: Reprodução)
Com estreia no Globoplay nesta quarta-feira (11), novela narra disputas de poder entre cangaceiros e coronéis durante as décadas de 1920 e 1930. Thomás Aquino fala do cangaço de 'Guerreiros do Sol' Com estreia no Globoplay nesta quarta-feira (11), "Guerreiros do Sol" é uma ficção inspirada em histórias reais. Ambientada no sertão nordestino, a trama narra disputas de poder entre cangaceiros e coronéis durante as décadas de 1920 e 1930. São cenas de um Brasil que, mesmo um século depois, mantém brutais injustiças. É o que afirma Thomás Aquino, protagonista da novela. "No coronelismo, a lei era só para alguns, mas hoje em dia a política social se mostra a mesma coisa", diz Thomás, em entrevista ao g1. "Quando acontecem certas atrocidades, alguns vão presos, mas outros não. Que tipos de leis são essas?" Em "Guerreiros do Sol", o ator faz o papel de Josué — seu "primeiro grande protagonista", como ele gosta de pontuar. O personagem é inspirado em Lampião, o mais famoso dos cangaceiros. Thomás Aquino em cena de 'Guerreiros do Sol' Divulgação Figura controversa, Lampião é popularmente visto como símbolo da resistência nordestina e, ao mesmo tempo, bandido cruel. Uma dualidade que também está em Josué. "Na novela, assim como aconteceu na história, as pessoas entram para o cangaço para se vingar de algo ou bater de frente com o coronelismo, essa política de leis 'que só servem para alguns'. A ideologia do cangaço é muito inteligente, interessante. Mas se perde... Daí, vêm [questionamentos como]: 'Quanto de Josué é bom, e quanto é mau?'". "Guerreiros do Sol" se desenvolve a partir da paixão de Josué por Rosa (Isadora Cruz), mulher também desejada pelo coronel Elói (José de Abreu) — ela é inspirada em Maria Bonita, esposa de Lampião. Para se livrar do concorrente, Elói arruína a família do Josué, e ele decide responder com vingança, entrando para o cangaço, no bando liderado por Miguel Ignácio (Alexandre Nero). "Passamos dois meses e meio filmando no sertão", conta Thomás. Além dos Estúdios Globo, no Rio, o elenco gravou em Piranhas (AL), Delmiro Gouveia (AL), Canudos (BA) e Paulo Afonso (BA). Criada e escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, "Guerreiros do Sol" será exibida a cada cinco capítulos, liberados semanalmente no Globoplay, sempre às quartas-feiras. Já finalizada, a novela segue um formato diferente do remake "Vale Tudo", em que tem Thomás atua agora como Mario Sergio. Nesta entrevista, o ator também comenta sobre o remake, a recém-decolada em sua carreira e a nova pose de galã. Veja a seguir a entrevista completa. Alexandre Nero e Thomas Aquino em 'Guerreiros do Sol' Reprodução g1 - Você já tinha tido alguma conexão com a temática do cangaço? Thomás Aquino - Não. Eu só tinha tido contato com a temática do sertão — o próprio "Bacurau" se passa no interior do Rio Grande do Norte. Então, já tinha feito trabalhos que permeiam esse universo. Já tinha sentido aquele calor, o clima mais seco, a sede que bate lá. Agora, fazer um trabalho como cangaceiro e em uma história inspirada em Virgulino, Lampião, Maria Bonita... É a primeira vez. Me sinto super feliz. É meu primeiro grande protagonista. g1 - E quanto à construção do Josué? Ele é um personagem inspirado em Lampião, uma figura muito complexa. Ao mesmo tempo em que é visto como símbolo da resistência popular do sertão nordestino do século XX, ele também é visto como bandido sanguinário e cruel. Também há muito misticismo, lenda e coisas sobre ele de que não sabemos se são verdades ou não. Thomás Aquino - Muitas histórias que, talvez, não tenham sido contadas. g1 - Sim. Como foi fazer um papel desse, que tem tantas camadas e complexidades? Thomás Aquino - Isso é maravilhoso para um ator, porque ele tem um gráfico de personagem muito intenso. Começa aqui, de repente sobe e aí acontece algo nessa outra profundidade. Está sempre em constante movimento. O que é esse Lampião? O que é esse Josué? Na novela, assim como aconteceu na história, as pessoas entram para o cangaço para se vingar de algo ou bater de frente com o coronelismo, essa política de leis "que só servem para alguns". A ideologia do cangaço é muito inteligente, interessante. Mas se perde... Daí, vêm [questionamentos como]: "Quanto de Josué é bom, e quanto é mau?" O poder, quando sobe à cabeça do homem, é capaz de transformá-lo. E talvez, a integridade que ele estabeleceu em outra fase de sua vida acaba se perdendo. A novela mostra o quanto humano somos e o quanto a gente pode perder por ter esse poder nas mãos. Fazer um personagem com várias nuances assim é difícil, exige do nosso mental e físico. Eu realmente me dediquei com unhas e dentes em todo o processo. Estudei bastante. Lia o que me passavam e o que encontrava nas pesquisas de fora. g1 - As gravações no sertão ajudaram nesse processo de construção do Josué? Thomás Aquino - [A experiência das filmagens na região] foi fundamental para a construção de personagens. Para a gente sentir o peso do que é estar no sertão com aquelas vestimentas, segurando aquelas armas e embornais, que são onde os cangaceiros colocavam todo o material que conseguiam nessas guerras. Eram as mochilas deles, praticamente as suas casas, já que eles eram nômades. Trabalhar nessas cidades fez o personagem crescer mil vezes. Ficamos dois meses e meio nas cidades. g1 - "Guerreiros do Sol" se passa no Brasil dos anos 20 e 30, um século atrás. De que maneira essa trama dialoga com o país de hoje? Thomás Aquino - Quanto mais a gente fala, mais possibilidades temos de tentar modificar uma imposição social. Digo "imposição", porque na novela a gente vê a nossa estrutura machista, que foi construída antigamente e ainda é muito forte e latente hoje em dia. E realmente, no coronelismo, a lei era só para alguns, mas hoje em dia a política social se mostra a mesma coisa. A gente vê que sempre tem um "jeitinho brasileiro". Quando acontecem certas atrocidades, alguns vão presos, mas outros não. Que tipos de leis são essas? Mas ainda existem guerras, pessoas que tentam bater de frente com tudo isso. Só que de uma forma atropelada, porque ainda não aprenderam que diálogo é o mais fundamental. A novela se passa nos anos 20 e 30, mas também fala muito sobre a história de hoje, de quem somos e para onde vamos. g1 - Você chegou a dizer recentemente que a novela quebra estereótipos. A que exatamente você se referia? Thomás Aquino - A partir do momento em que nós temos um autor pernambucano e um elenco majoritariamente nordestino, a gente começa a compreender que não vai vir uma coisa estereotipada [sobre a região]. São pessoas com vivências reais desse nordeste. Claro, a função do ator é se modificar. A novela até tem atores do sudeste, e tinha uma profissional só para prosódia. Isso é muito rico, porque o nordestino está cansado de ver esse estereótipo de sotaque. g1 - A novela chega em um momento ótimo para a sua carreira. Nos últimos anos, você fez 'Os Outros', 'DNA do Crime', 'Vidas Bandidas' e 'Bacurau'. Como você analisa essa fase? Thomás Aquino - Eu realmente vivo uma fase muito feliz. Ainda estou processando aos poucos, porque são tantas informações, né? Mas eu me mantenho com pé no chão, porque não é de agora que está surgindo isso. É uma luta que vem lá de trás, comecei essa carreira com 20 anos, e hoje tenho 39. Me sinto muito emocionado. g1 - Você atuou em dois filmes do Kleber Mendonça Filho, "Bacurau" (2019) e "O Agente Secreto" (2025). Os dois ganharam prêmios no Festival de Cannes, incluindo troféus inéditos para o Brasil. O cinema brasileiro vive uma nova fase? Thomás Aquino - Plenamente, o cinema nacional está muito forte. A gente passou por um tempo de turbulência muito grande. Um passado recente que teve vedação social para que esse cinema brasileiro não acontecesse, crescesse ou se desenvolvesse. Mas agora, a gente está com essa porta aberta e vê o quanto potencial temos. Eu sou muito feliz de fazer parte desses dois projetos do Kleber. Sei que o nome gravado nos prêmios de "O Agente Secreto" são Kleber Mendonça Filho [melhor diretor] e Wagner Moura [melhor ator], mas esses prêmios são do Brasil. g1 - Qual é seu papel em "O Agente Secreto"? Thomás Aquino - Eu estou em uma cena com Maria Fernanda Cândido e Wagner Moura. Não sei se eu posso dar muito spoiler sobre quem sou, mas meu personagem visa combater a ditadura de uma maneira para ajudar os rejeitados, entre aspas. O filme vai desvendando mistérios. g1 - Como tem sido acompanhar a repercussão da chegada de seu personagem em "Vale Tudo", Mario Sergio, que ganhou fama de galã? Thomás Aquino - Quando a TV surgiu, a gente só tinha corpos padrões na tela. Loiros de olhos claros. Mas essa não é a única beleza que existe na nossa sociedade, somos tão plurais. E isso já foi uma questão para mim. Eu me olhava e pensava "será que não sou capaz de ser belo?" Mas a sociedade está se repaginando. Quanto mais a gente dialoga, mais a gente pode quebrar bolhas.

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/tv-e-series/noticia/2025/06/11/thomas-aquino-compara-cangaco-de-guerreiros-do-sol-com-brasil-de-hoje-lei-era-so-para-alguns.ghtml


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