Aluno diz que ideia de criar tecido com bagaço da cana-de-açúcar surgiu do desejo de transformar algo que é jogado fora 'em algo útil'
27/10/2025
(Foto: Reprodução) Gabrielle e Thiago vão apresentar tecido criado a partir do bagaço de cana-de-açúcar em uma feira, na Bahia
Divulgação/ Seduc
Ao desenvolverem o projeto de um tecido feito com bagaço de cana-de-açúcar, em uma escola estadual de Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, a professora de biologia Gabrielle Rosa Silva, de 29 anos, e seu aluno Thiago Alves dos Santos, de 18 anos, uniram inovação e sustentabilidade. O estudante contou ao g1 que o objetivo da ideia, que foi selecionada para representar Goiás em uma feira de bioinovação na Bahia, era transformar o que é jogado fora em algo útil.
'Eu comecei a fazer pesquisas alternativas para transformar resíduos vegetais em algo útil. E foi assim que eu desenvolvi esse tecido ecológico, que tem uma textura parecida com o algodão e tem uma leveza semelhante à da seda", disse o estudante do ensino médio.
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Segundo a professora Gabrielle, eles já haviam desenvolvido um papel à base de folhas de pequi na própria escola, o Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Osvaldo da Costa Meireles. Depois disso, Thiago questionou se seria possível usar o material para desenvolver um tecido. A docente, então, sugeriu que fosse usada uma matéria-prima com maior quantidade de celulose.
"Aí, eu falei: 'vamos tentar o bagaço da cana-de-açúcar'. Porque a gente vai à feirinha e vê as pessoas consumindo, mas o bagaço sendo descartado", relatou a professora.
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O bagaço de cana-de-açúcar antes e depois de passar pelo processo de transformação em tecido
Divulgação/ Gabrielle Rosa Silva
Produção em 10 dias
Gabrielle explica que o processo de produção envolve, após higienização, a preparação da biomassa. Depois, é feita a extração da celulose, seguida da dissolução, para tirar a rigidez do bagaço e deixá-lo maleável.
Para a extração da celulose, são necessárias cerca de três horas. O procedimento utiliza água e soda cáustica sob temperatura constante de 80ºC para quebrar os compostos orgânicos e liberar a celulose. Em seguida, é feita a clarificação do material com água oxigenada.
Segundo a professora, todo o processo de produção, porém, até o resultado final, leva cerca de 10 dias. Na etapa de formação, o bagaço deixa o aspecto rígido e passa a ser viscoso. "Fica como se fosse um mini algodão. Então, a gente faz o processo de fiação, que é a formação de um fio. Depois, a gente faz os ajustes finais", contou.
Setor elogia
Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que representa o setor sucroalcooleiro, cada tonelada de cana moída gera, em média, cerca de 250 kg de bagaço. Para se ter uma ideia do potencial que pode ser explorado, na safra 2024/25 o Centro-Sul do país processou cerca de 679,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o que renderia, portanto, cerca de 170 milhões de toneladas de bagaço.
A entidade explicou, por meio de nota, que hoje a maior parte do bagaço produzido no país não é descartada porque é aproveitada para cogeração de energia (térmica e elétrica) nas próprias usinas. E uma parte menor pode ser usada em outros subprodutos, como, por exemplo, ração animal.
A Unica avalia, porém, como positivas iniciativas como a da professora Gabriella e do aluno Thiago, porque ampliam o uso sustentável dos resíduos da cana e estão "alinhadas aos princípios de circularidade e bioinovação que o setor vem promovendo".
A professora e o aluno vão apresentar o projeto durante a II Feira de BioInovação Territórios do Brasil (FBioT Brasil), que acontecerá nos dias 27 e 30 de novembro, no Instituto Federal Baiano, no Campus Uruçuca, na Bahia.
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